Ó, Mar!
Deus da cor da Terra,
repouso de todos os rios,
que te buscam como descanso.
Tu, cheio de mistério,
que já enganastes marinheiros,
escondeste monstros marinhos,
e afundaste navios,
tomou para si muitas vidas.
Então, nesta noite que chega,
seja nosso cúmplice,
toma o brilho das almas que nos pertecem,
mesmo sem que nos peça,
pois esse desejo que está para nascer
já não cabe mais em nós.
Nesta praia deserta
onde a areia é agora o nosso assento
e a tua onda cheia de espumas, a nossa coberta.
De batismo doce é o nosso amor,
que vai te dar novo sabor.
Até o Deus Sol
vai ficar rente a ti no seu pôr,
para nos ver entregues nos braços um do outro,
e contar para a Lua, como testemunhou
o suco do nosso amor se misturar ao teu.
A vida, que hoje povoa a Terra,
veio do teu ventre,
e agora o mistério de nossos desejos
vai fazer parte da tua matéria e da tua história,
como uma oferta ao criador.
Te retribuindo as ondas que nos banham
Sem marés de preocupação com o tempo.
E a única ressaca que existe
é aquela de nossos corpos temperados com o teu sal.
Quem provar de ti novamente
já te reconhecerá com novo gosto
e vai ficar embriagado de sonhos,
como se ouvisse ondas quebrando a dura rocha,
mas na verdade serão os nossos suspiros inefáveis.
Ó minha amada,
quero escalar as dunas do teu corpo,
superar com você o frio dessa noite,
acendendo uma fogueira com nossos corpos,
criando o nosso próprio Sol.
Quero te contar segredos meus,
beijando tua orelha em forma de concha.
E o prazer sonhado vai deslizar sobre nós
como se fosse cada onda do mar a nos tocar.
E quando chegar a meia-noite,
seremos um farol,
servindo de porto seguro para muitos corações
que vagam à deriva no mar
querendo produzir uma luz igual que dure eternamente.